19.07.2010 - 17:20
Por Clara Viana
A Associação Portuguesa de Professores de Biologia e Geologia considera que uma das questões do exame da segunda fase desta disciplina, realizado na sexta-feira, suscita “muitas dúvidas científicas”, podendo mesmo não existir a associação que é proposta nesta pergunta.
Questionado pelo PÚBLICO, o Gabinete de Avaliação Educacional do Ministério da Educação, responsável pela elaboração dos exames, afirmou que só amanhã poderá ter uma resposta. "Estamos a monitorizar a situação. Como habitualmente procedemos, em casos similares, vamos solicitar a especialistas, que não intervieram no processo de auditoria das provas, que se pronunciem sobre a matéria", explicitou o Gave.
Num parecer enviado hoje, a APPBG afirma que no conjunto a prova está “bem construída e contextualizada com o programa da disciplina”, mas considera que continuam a subsistir questões que levantam dúvidas. A mais grave diz respeito ao item 7 do Grupo IV: “a associação de processos de produção de ATP a mecanismos de hidrólise de polissacarídeos requerida suscita-nos muitas dúvidas científicas", afirma a associação, frisando a propósito que “o meio académico e a bibliografia especializada estão em clara dissonância com a resolução proposta”.
“Apesar dos processos catabólicos serem globalmente exoenergéticos, o processo solicitado (hidrólise de polímeros) não é possível de síntese de ATP”, conclui-se. As outras questões levantadas pela associação dizem respeito aos itens 7 do Grupo I e do Grupo II, relacionados com minerais e fungos. Apoiam-se “numa abordagem periférica do programa homologado”, afirma a associação, que acrescenta que a questão sobre os fungos é mesmo “susceptível de prejudicar os alunos”, uma vez que tem por base “interacções nos ecossistemas que incluem as micorrizas”, sendo que o programa “não prevê, objectiva e explicitamente, a referências a estas, nem neste nem noutro contexto”.
Por isso, a APPP recomenda a “necessária ponderação nos critérios de classificação deste item de forma a evitar possíveis injustiças”.
Entre as cinco disciplinas com média negativa na primeira fase dos exames nacionais do secundário figurou também de novo Biologia e Geologia, que funciona como prova para os cursos de Saúde. Com a excepção de 2008, a média nesta disciplina tem-se mantido abaixo de 10 desde há cinco anos anos, quando se estrearam os exames do novo programa implementado a partir de 2004.
Nesta disciplina, a média que resultou das classificações dadas pelos professores aos alunos internos, que são aqueles que frequentam as aulas o ano inteiro, foi de 14. No exame da primeira fase ficou-se pelos 9,8.
Formação de professores
Será que “a formação inicial e contínua de professores é coerente com as exigências modernas do ensino das ciências sustentado em metodologia investigativa?”, questiona a associação, lembrando que, nos últimos anos, “o financiamento da formação contínua de docentes não tem contemplado as ciências experimentais, estando centrado nas Tecnologias de Informação e Comunicação!”.
A APPBG chama a atenção para o facto de cinco anos de provas escritas de Biologia e Geologia já constituírem “um manancial de informação digno de reflexão”. Importa saber as razões pelas quais os resultados têm sempre ficado “aquém do expectável, traduzido em médias baixas e sistemáticamente inferiores a cem pontos [numa escala de 1 a 20, abaixo de 10] ” e na discrepância entre as classificações internas finais [atribuídas pelos professores no final das aulas] e as classificações de exame.
Segundo a associação, “apesar de globalmente correcta, a estrutura dos exames também “carece de intervenções pontuais”, nomeadamente assegurando que os itens das provas tenham “uma formulação objectiva e inequivocamente enquadrada nos programas homologados da disciplina”. Por outro lado, acrescenta, “sem comprometer o rigor científico, deveria existir um conjunto de itens que permitisse aos alunos com competências básicas na disciplina alcançar a classificação de 10 valores”. Deste modo, possibilitava-se “a utilização do exame como prova de ingresso no ensino superior, ao invés de se constituir como factor de exclusão”.
Esta situação repetiu-se na prova da segunda fase, já que, refere a APPBG “reúne um conjunto de questões que um aluno que só domine as competências básicas definidas para a disciplina, muito dificilmente atinge com classificação positiva nesta”.
Tanto se fala sobre os exames de Biologia-Geologia do 10/11º, a minha modesta opinião é a seguinte:
Os programas novos de BG10/11 ensino secundário (10º- início em 2004-2005) foram feitos com «remendos» dos anteriores.
A «costureira» de serviço: m.c.lameiras
Alguns conteúdos (poucos) foram feitos de «pano novo», outros foram apenas «alinhavados», outros «mal cosidos» , outros ainda ficaram nas «costuras» ( estão lá, mas só os vê quem os conhece) e, pior ainda, alguns foram parar ao cesto dos «retalhos» que são bons mas só os aproveita quem souber da arte.
Perante este cenário de «alta-costura virtual», importa que quem anda a fazer os exames tenha a humildade suficiente de «provar a saia» que lhe obrigam a vestir ou, se não gosta, deve propor a alteração dos «trapos» (leia-se, «programas») para torná-los mais realistas capazes de serem «vestidos» pelos comuns mortais dos nossos alunos. Porque «pano para mangas» há... e sobra...
A «costureira» de serviço: m.c.lameiras