Descoberta pode levar ao desenvolvimento de novos analgésicos e identificação de factores de risco para dores crónicas
2010-11-11
CienciaHojeNuma investigação internacional que envolveu o Instituto de Biotecnologia Molecular da Academia Austríaca de Ciências, a Harvard Medical School e o Hospital Infantil de Boston são revelados novos genes implicados na dor. O artigo está publicado na «Cell».
O investigador Josef Penninger explica que nas experiências foram encontrados muitos genes que anteriormente nunca tinham sido implicados neste processo. Um desses em particular, o α2δ3 (alfa2delta3), tem uma longa história evolutiva, evidenciada pelo facto de que desempenha um papel na sensação de dor na mosca da fruta, nos ratos e nas pessoas. Pelo menos no rato, este gene está também ligado à condição conhecida nos humanos como sinestesia, em que um determinado sentido é percepcionado por outro.
Esta descoberta, explica Clifford Woolf, da Harvard Medical School, reforça a importância da dor como um mecanismo de protecção. Outra descoberta importante é que este gene actua no cérebro e não no sistema nervoso periférico, como acontece com a maioria dos genes associados à dor.
Nas experiências, os investigadores utilizaram um método chamado RNA interferente para desactivar genes em moscas da fruta e testar a sua resposta quando expostas a um calor muito nocivo (que as mataria se não se afastassem). Revelaram-se assim centenas de genes com um papel potencialmente importante no sentido da reacção à dor induzida por calor.
A equipa focou a sua atenção no gene α2δ3 (alfa2delta3). Não se conhecia até agora nenhuma relação deste com a dor. Mas era importante porque estava relacionado com outro gene que é alvo de medicamentos analgésicos.
A falta de actividade deste tornou tanto as moscas como os ratos menos sensíveis a este tipo de dor. Nos ratos, os investigadores foram capazes de rastrear onde o α2δ3 estava a agir e constataram que a sua actividade acontecia principalmente no cérebro e não nas terminações nervosas que são imediatamente responsáveis pela detecção de calor.
Foi já detectada uma variante deste gene em humanos que está associada à falta de sensibilidade ao calor e à dor crónica das costas.
A compreensão da base genética da dor pode levar ao desenvolvimento de novos analgésicos, bem como à identificação de factores de risco para dores crónicas. Pode também melhorar a tomada de decisões sobre a adequação do tratamento cirúrgico para pacientes diferentes, explica Clifford Woolf.
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