2010-03-09
A ideia de encontrar uma vacina capaz de atacar as células tumorais não se mostrou tão útil como teriam desejado os cientistas.
Algumas das tentativas desenvolvidas até então funcionaram apenas a meio-gás, por isso há que ter cuidado a analisar esta notícia: uma terapia eficaz imune contra um tipo de tumor de pulmão − o mesotelioma.
Mesotelioma é dos cancros mais mortais
A teoria é atractiva − se o sistema imunológico do organismo humano fosse capaz de identificar e atacar as células tumorais como faz contra os vírus ou bactérias externas, talvez as próprias células defensivas pudessem acabar com elas internamente. Mas isto não é assim tão simples. É necessário haver uma resposta suficientemente intensa para que tenha potencial anti-canceroso, mas sem efeitos secundários indesejáveis.
A última tentativa de encontrar uma vacina para combater um dos tipos de cancro mais mortais vem publicada na revista American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine.
O mesotelioma produz-se na pleura, a membrana que reveste os pulmões e está fortemente relacionado com a exposição ao amianto, um componente tóxico que se usou durante décadas na indústria antes da sua proibição.
A equipa de Joachim Aerts, do Centro Médico Erasmo de Roterdão, na Holanda, tem estado a provar a eficácia de uma vacina contra o mesotelioma.
Os testes em animais mostraram que as células dendríticas do próprio sistema imunitário eram capazes de travar a doença e agora acabam de publicar os resultados com os primeiros dez pacientes que testaram a terapia.
Ensaios e eficácia
Trata-se ainda da primeira fase do ensaio, cujo primeiro objectivo era demonstrar que a terapia também é segura em humanos, mesmo que anteriormente já tenham observado indícios de eficácia.
Os investigadores extraíram células dendríticas imaturas do sistema imunitário de dez pacientes com mesotelioma em fases iniciais que já tinham sido sujeitos a quimioterapia.
Em laboratório, estas células defensivas foram tratadas para que reconhecessem como estranhos os antigénios do tumor e posteriormente foram reinjectadas no organismo (três vezes durante duas semanas).
Mesmo que o trabalho ainda seja experimental para dar conclusões exactas, os investigadores observaram nas amostras de sangue dos participantes um aumento significativo de anticorpos − as substâncias que produz o organismo quando detecta elementos estranhos.
Em relação a efeitos secundários apenas se registaram alguns problemas de febre e sintomas parecidos com a gripe no dia seguinte à injecção.
Amianto continua a atacar
“Detectámos uma resposta imune num número mínimo de pacientes após a vacinação, se isto se traduz numa melhora da esperança de vida a longo prazo deve ser elucidado em futuros trabalhos”, reconhecem os autores. Três dos pacientes mostraram uma regressão tumoral, mas não se pode concluir que se deva à vacina.
Mesmo que o amianto esteja proibido na grande parte dos países desenvolvidos (na União Europeia foi proibida toda e qualquer utilização desta fibra mineral desde Janeiro de 2005), o mesotelioma é uma doença que pode levar de 20 a 50 anos a desenvolver-se desde o momento da exposição.
Por isto, Aerts alerta que a incidência e mortalidade causada por este cancro vai continuar a aumentar mesmo depois de 2020. Com os actuais regimes de quimioterapia, a esperança média de vida depois do diagnóstico não supera os 12 meses e os investigadores acrescentam que “é urgente continuar a trabalhar em vias alternativas que levem a novas terapias”.
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