2011-01-13
Por Carla Sofia Flores
Clonagem permitiu melhorar a qualidade do fruto |
Conscientes do valor da planta e do seu fruto - o medronho - , investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e da Escola Superior Agrária de Coimbra recorreram a métodos de selecção e clonagem para desenvolver genótipos de medronheiros mais produtivos e mais resistentes a condições ambientais adversas com frutos de qualidade superior.
Jorge Canhoto, que juntamente com Filomena Gomes estudou esta planta ao longo de cinco anos, explicou ao “Ciência Hoje” que “o interesse no medronheiro surgiu por ser uma espécie característica da nossa flora que, apesar do seu potencial, tem sido marginalizada. As pessoas conhecem tantos frutos exóticos e aqueles que são nossos [o medronho, por exemplo] não são aproveitados”.
Potencial do medronheiro
O investigador de Coimbra falou do potencial do medronheiro, que se verifica aos níveis económico e ambiental. Para além de o medronho poder ser vendido em grande escala, algo que não acontece actualmente, pode ser utilizado para a produção de compotas e geleias.
A partir do medronho pode também ser feita aguardente, como já se verifica no Algarve e na zona centro do país. A utilização da planta pode ainda rever-se na indústria farmacêutica, visto que medronheiros apresentam propriedade anti-sépticas e diuréticas acrescentou Jorge Canhoto, que não esqueceu a sua aplicabilidade em arranjos florais.
Em termos ambientais, o medronheiro tem potencial para proteger e reabilitar os solos. “Resistem muito bem aos incêndios, se não forem muito fortes, e rebentam de novo mais rapidamente do que as outras plantas, pois têm uma forte capacidade de regeneração. Além disso, conseguem viver em solos e condições pobres, por serem tolerantes à falta de água e ao frio”, frisou. O medronho serve também como alimento a várias espécies de pássaros, adquirindo assim mais valor do ponto de vista ecológico.
Processo de clonagem
Este projecto, que também contou com a participação de investigadores da área florestal do Instituto Nacional de Recursos Biológicos e da Escola Superior Agrária de Castelo Branco, começou por seleccionar e caracterizar as plantas boas produtoras do fruto, de forma a cloná-las, multiplicando-as in vitro.
As selecção das “árvores de elite”, como lhes chama Jorge Canhoto, resultou da recolha de amostras para a avaliação da diversidade dos medronheiros pelo país, do Algarve ao Minho. Os investigadores procederam então à caracterização molecular - uma espécie de “impressão digital” da planta - para, depois disso, desenvolverem as metodologias de clonagem que permitiram criar plantas mais produtivas e com frutos de maior qualidade.
Após a “multiplicação” desta planta, os investigadores vão proceder à optimização do processo de transferência dos medronheiros de laboratório para as condições naturais, na expectativa de que a adaptação a condições de solo seja mais eficaz evitando, por exemplo, o uso de adubos químicos e de fitofármacos.
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