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2010-11-10
A malária é uma doença cujo combate continua a desafiar investigadores por todo o mundo. De forma a incentivar o estudo desta doença mortífera, a Fundação Bill & Melinda Gates, no âmbito do programa Grand Challenges Exploration, vai financiar dois projectos portugueses que almejam combatê-la através de diferentes meios e abordagens inovado.
Nomeadas Prémio Mulher Activa 2008
No Instituto de Medicina Molecular (IMM), Miguel Prudêncio, Maria Mota e a sua equipa propõem desenvolver uma vacina contra a malária, enquanto Miguel Soares (Prémio Seeds of Science - Ciências da Saúde - 2011), do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), e Henrique Silveira, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), pretendem abordar esta doença por outra vertente, recorrendo a anticorpos contra a flora intestinal, produzidos naturalmente no corpo.
Ambos os projectos foram distinguidos por apresentarem “formas audaciosas e não-ortodoxas para a resolução de problemas de saúde pública em países em vias de desenvolvimento”, pelo que vão receber 100 mil dólares por um período de seis a 18 meses, extensível a um milhão de dólares, caso os projectos demonstrem sucesso nesta fase inicial.
A vacina a desenvolver por Miguel Prudêncio recorre a um parasita que infecta apenas roedores e não causa qualquer doença em humanos. No entanto, este organismo pode ser modificado geneticamente de forma a activar o sistema imunitário humano e a ensiná-lo a combater o parasita da malária que infecta humanos, quando o encontrar.
O aspecto mais inovador neste projecto é o recurso a uma estirpe de parasita da malária que não é capaz de induzir doença em humanos, chamada Plasmodium berghei. Até agora, as abordagens para desenvolvimento de uma vacina contra esta doença – que ainda não existe – têm-se voltado para a modificação do Plasmodium falciparum, a estirpe que causa malária em humanos.
O parasita pode ser modificado geneticamente de forma a activar o sistema imunitário humano e a ensiná-lo a combater o parasita da malária, que irá infectar os seres humanos quando os encontrar.
Recorde-se que, até agora, o projecto mais avançado da vacina – com ensaios em seres humanos – está a ser desenvolvido pela multinacional farmacêutica Glaxo Smith Kline. Ainda assim, esta só consegue entre 30 a 40% de protecção.
A equipa do IMM, liderada por Maria Mota e Miguel Prudêncio, tem agora um ano e meio para provar que as suas ideias são viáveis e o desenvolvimento da vacina uma realidade.
A malária atinge mais de 250 milhões de pessoas por ano e mata dois milhões, sendo metade destas crianças com menos cinco anos de idade. Cerca de 90% destas mortes, por outro lado, ocorrem na África subsariana.
A vacina a desenvolver por Miguel Prudêncio apresenta uma abordagem nunca experimentada
Tem-se tentado, por exemplo, atenuar os efeitos do Plasmodium falciparum, através de radiação ou de modificação genética. Contudo, estas abordagens carregam em si um grande risco de desenvolvimento de malária em humanos, dado que poderá haver parasitas que escapem aos processos de atenuação em que as vacinas se baseiam.
No projecto agora distinguido pela Fundação Bill & Melinda Gates, os riscos de segurança associados são praticamente inexistentes, dado que o parasita que causa malária em roedores é incapaz de o fazer em humanos.
Ao longo dos próximos 18 meses, a equipa de investigação procurará demonstrar que o parasita de roedores, geneticamente modificado, preenche os requisitos necessários para despoletar a resposta imune esperada e, simultaneamente, confirmar a premissa de segurança da estratégia delineada.
Após esta fase de desenvolvimento do projecto a equipa pretende testar esta vacina em humanos. Esta segunda etapa do projecto prevê a realização de ensaios clínicos em voluntários e ensaios controlados em áreas geográficas onde a malária é endémica. Caso os resultados do projecto que agora se inicia sejam promissores, a segunda fase poderá vir a ser também financiada pela Fundação Bill & Melinda Gates.
“Estamos muito optimistas de que conseguiremos validar as premissas de segurança e eficácia da nossa abordagem. Esperamos que abra caminho para um novo tipo de vacina e que contribua para a tão esperada erradicação da malária”, afirma Miguel Prudêncio.
Anticorpos contra a flora intestinal
A abordagem de Miguel Soares recorre aos anticorpos contra a flora intestinal, produzidos naturalmente no corpo.
Ao longo do tempo, os humanos produzem uma grande variedade de anticorpos, incluindo alguns contra um açúcar produzido pelas bactérias da flora intestinal. O parasita Plasmodium também produz o mesmo açúcar, o que sugere que esses anticorpos poderão ser utilizados para neutralizar o parasita logo que entre na corrente sanguínea. Desta forma, a infecção seria bloqueada imediatamente após a picada do mosquito.
Investigação de Miguel Soares poderá resultar em terapias mais acessíveis.
Os investigadores estão convencidos de que a maior incidência de malária grave que se regista em crianças com menos de cinco anos poderá ser devido aos baixos níveis daqueles anticorpos após o nascimento e durante os primeiros anos de vida, pois serão necessários três a cinco anos para que os anticorpos se acumulem no sangue.
Uma vez presentes em concentrações estáveis - o que acontece aos três a cinco anos de vida - os humanos tornam-se menos susceptíveis à infecção por Plasmodium e, consequentemente, às formas graves de malária.
Para testar esta hipótese, Miguel Soares e Henrique Silveira irão recorrer a ratinhos geneticamente modificados para produzir o anticorpo humano contra a flora intestinal. Estes serão postos em contacto com mosquitos capazes de introduzir o parasita Plasmodium na sua corrente sanguínea.
Os investigadores esperam assim que os ratinhos geneticamente modificados sejam resistentes à infecção, ao contrário dos restantes. Se esta hipótese se verificar, abrirá caminho ao desenvolvimento de uma nova abordagem terapêutica: através do aumento dos níveis de anticorpo no sangue, reduzir-se-á a capacidade do mosquito de infectar crianças.
Recordando o percurso da investigadora:
Maria Mota lidera investigação financiada pelo Howard Hughes Medical Institute
2005-05-23
O Howard Hughes Medical Institute acaba de aprovar para financiamento a candidatura apresentada pela investigadora do Instituto de Medicina Molecular (IMM), Maria Manuel Mota, presidente da associação Viver a Ciência, ao Programa Internacional de Financiamento de Investigadores (International Research Scholars Program).
O programa atribui financiamento a instituições de investigação fora dos EUA, por um período de 5 anos, através de investigadores de reconhecido mérito no domínio das Ciências Biomédicas, que tenham vindo a contribuir de forma significativa para a compreensão dos processos e mecanismos biológicos da doença, nomeadamente em áreas como a da parasitologia e doenças infecciosas.
A Malária é uma doença causada por um protozoário do género Plasmodium e mata cerca de 1.5 a 2.7 milhões de crianças todos os anos. O trabalho agora financiado visa a compreensão dos mecanismos moleculares da doença, os quais afectam o rumo da infecção e a patologia a ela associada. Os principais interesses do grupo de investigação dirigido pela Dra. Maria Mota, focalizam-se nas interacções que ocorrem entre o parasita da malária e o seu hospedeiro vertebrad
Sendo a infecção hepática obrigatoriamente o primeiro passo na evolução da doença, o estudo das interacções entre plasmodium e hepatócito durante a fase hepática da infecção é de crucial importância para a definição de estratégias de intervenção. Assim a equipa propõe-se caracterizar a resposta do hepatócito à presença do parasita da malária e ao seu desenvolvimento dentro da célula e as alterações sofridas no hepatócito a nível de vias de sinalização envolvidas na morte da célula hospedeira e determinar quais as moléculas de Plasmodium responsáveis por essas alterações.
Maria Manuel Mota tinha recebido em 2004 em Estocolmo, o prémio da Fundação Europeia da Ciência, no valor de mais de um milhão de euros, na sequência de um trabalho coordenado por si sobre a malária.
2007-05-13
Investigadores portugueses publicam esta semana um estudo na revista Nature Medicine no qual mostram que, em modelos laboratoriais, a malária cerebral – que provoca mais de um milhão de mortes anualmente em todo o mundo - pode ser tratada por inalação de baixa concentração de monóxido de carbono, abrindo caminho a novas abordagens terapêuticas em humanos.
*Ver também o artigo de Catarina Amorim «Scientists have discovered a possible way to fight cerebral malaria»
Este estudo é liderado por Maria M. Mota, do Instituto de Medicina Molecular, e por Miguel P. Soares no Instituto Gulbenkian de Ciência, envolvendo posteriormente o laboratório de József Balla da Universidade de Debrecen na Hungria.
Os investigadores conjugaram competências para demonstrar que a malária induz a expressão de uma enzima chamada heme oxigenase-1 no hospedeiro infectado. A HO-1 é uma enzima que degrada o heme, uma molécula existente na hemoglobina nos glóbulos vermelhos, que contém ferro e que participa no transporte do oxigénio para os tecidos.
A degradação de heme pela HO-1 origina, entre outras substâncias, o gás monóxido de carbono, que não é tóxico quando produzido nestas condições. Recorrendo a ratinhos geneticamente modificados, os investigadores verificaram que os ratinhos que não têm HO- 1, quando infectados pelo parasita da malária (Plasmodium), morrem de malária cerebral, enquanto aqueles que expressam a enzima sobrevivem.
Ana Pamplona, primeira autora deste trabalho, revela: “ Esta é uma forte evidência de que a HO-1 e o seu produto monóxido de carbono poderão estar envolvidos no controlo da malária cerebral por parte do hospedeiro. Nós estamos interessados neste mecanismo de controlo. Através de uma série de experiências, conseguimos mostrar que a HO-1 e o monóxido de carbono, usado a baixas concentrações, previnem a progressão da malária cerebral em ratinhos. Este efeito baseia-se na capacidade do monóxido de carbono impedir a libertação do heme dos glóbulos vermelhos.”
Os resultados sugerem ainda que a inalação de monóxido de carbono poderá vir a ser usada como terapia contra a malária em humanos.
Nomeadas Prémio Mulher Activa 2008
Maria Manuel Mota (Investigadora principal do Instituto de Medicina Molecular)
ACTIVA
16 Fev. 2010
Natural do Porto, Maria Mota, 38 anos, dedica-se à investigação na área da malária, uma doença que continua a matar cerca de três milhões de pessoas por ano. Além disso, a cientista é também presidente da Associação Viver a Ciência, uma associação não lucrativa que tem como objectivo divulgar a Ciência junto do público em geral e encontrar fundos privados para financiar os novos investigadores.
O seu percurso iniciou-se com o curso de Biologia na Universidade do Porto. Decidida pela investigação, Maria Mota prosseguiu a carreira com o mestrado e o doutoramento no National Institute For Medical Research, já na área da malária. Mas Maria Mota não se ficou por aqui. Depois do doutoramento, atravessou o oceano rumo à Universidade de Nova Iorque, onde ficou três anos para fazer um pós-doutoramento."E aí fiz a descoberta principal de toda a minha carreira científica: anos antes, alguém registara em filme, num microscópio, o parasita da malária a entrar e a sair dentro de células, até escolher uma para se instalar." Na época pensou-se que o filme era falso. Maria Mota soube dessas gravações e trabalhou sobre elas, acabando por descobrir que o parasita da malária, quando chega ao nosso organismo, não entra na primeira célula que encontra, antes atravessa várias até se instalar numa. "Até hoje, as causas ainda são controversas, mas criou-se um novo campo de trabalho."
A descoberta valeu-lhe vários prémios, entre os quais a Ordem do Infante. Mas, três anos depois, o desejo do marido de regressar a Portugal falou mais alto. Hoje, Maria desenvolve o seu trabalho no Instituto de Medicina Molecular, da Universidade de Medicina de Lisboa. O objectivo final? "Testar drogas que já estão no mercado para ‘travar' a malária."
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