domingo, 9 de maio de 2010

Mercúrio: misterioso e mortal

«... De facto, os romanos já haviam verificado que os mineiros que exploravam o cinábrio (sulfureto de mercúrio), o mineral que ocorre na Natureza a partir do qual o mercúrio é extraído, tinham uma esperança de vida curta. Assim, enviavam apenas os piores criminosos para trabalharem nas minas de quicksilver de Espanha. Alguns destes homens iriam sofrer de tremores, salivação excessiva, ataques de agressividade e perdas de memória. Na verdade, a beleza exterior do mercúrio esconde sua extrema toxicidade.

A indústria química utiliza este metal como catalisador, sendo o mercúrio uma parte integrante do processo utilizado para produzir cloro e soda cáustica (hidróxido de sódio) a partir do sal. Também pode ser encontrado em interruptores eléctricos, amálgamas para os dentes, baterias, detonadores e, claro, termómetros.

Normalmente não pensamos que a pequena coluna de mercúrio selada no interior de um termómetro possa causar problemas, mas os termómetros partidos tiveram como resultado muitas hospitalizações.
As crianças, dado o seu pequeno tamanho, são especialmente susceptíveis aos efeitos do vapor de mercúrio.

Por mais perigoso que o vapor de mercúrio seja, não é de perto nem de longe a forma mais tóxica deste metal. Esta distinção cabe a um derivado do mercúrio, o dimetilmercúrio. O mundo descobriu a natureza mortal desta substância nos anos 50, quando dezenas de pessoas morreram e milhares de outras sofreram sintomas da toxicidade do mercúrio numa vila piscatória japonesa chamada Minamata.

Uma indústria química das redondezas havia utilizado mercúrio na produção de acetileno e rotineiramente lançava o mercúrio utilizado no processo produtivo no oceano. Como o mercúrio não é solúvel na água, deveria ter-se acumulado inocentemente no fundo do mar. Mas não o fez. Os microrganismos aquáticos converteram o mercúrio na sua forma insolúvel em dimetilmercúrio solúvel, que depois contaminou os peixes. O primeiro sinal de problemas foi uma epidemia de “doença dos gatos dançantes”. Muitos felinos de Minamata esganaram-se, salivaram e tiveram um colapso depois de comerem peixe contaminado. Os humanos seguiram-lhes rapidamente o caminho.»

O Génio da Garrafa, de Joel Schwarzcz, Editora Gradiva (adaptado)

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